quarta-feira, 18 de junho de 2008

Scalata

"Eu, que contemplo o azul do céu, não sou diante dele um sujeito acósmico, não o possuo em pensamento, não desdobro diante dele uma idéia de azul que me daria seu segredo, abandono-me a ele, enveredo-me nesse mistério, ele " se pensa em mim", sou o próprio céu que se reúne, recolhe-se e põe-se a existir para si, minha consciência é obstruída por esse azul ilimitado. "

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 1999. Martins Fontes. p.289


Série Scalata
2004
pinturas . acrílica sobre linho


...azuis




À primeira vista, são manchas que se movem, nuvens azuis e ocres. Por baixo delas, o azul compacto é produto de camadas que se adensam fazendo o etéreo parecer sólido. Na verdade, as manchas são milhares de fibras de uma tecitura muito fina. Parte dela configura planos frontais que se organizam de modo vagamente geométrico e se sucedem em profundidade. A outra parte parece nuvem a soltar-se da primeira para diluir seus contornos e apagar as diferenças.
Tudo parte de um fundo escuro que tende a engolir a luz. Por isso as cores são turvas. No entanto, a luz se impõe pela reiteração e pela saturação. É a compactação das finas camadas de cor e, ao mesmo tempo, a sua dissolução em névoa que faz surgir, junto ao fundo escuro com o qual se mantém em constante tensão, o espaço visível destas pinturas. É do todo indiferenciado da escuridão que emerge a individuação dos planos que se sobrepõem.
São portanto dois mundos que se encontram: por baixo, a escuridão absorvente mas também fundadora; por cima, a luz turva a dar conformidade a um espaço sempre em reconfiguração. Ambos se precisam e se tensionam. Atravessando um e outro, emergindo entre véus, torres e anjos, casas e escadas aguardam reinterpretação. Mais tangíveis na forma, desafiam nosso poder de compreensão e necessidade permanente de dar sentido ao informe.

Lincoln G. Dias
Professor do Centro de Artes da UFES
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP


vermelhos, laranjas...




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Um comentário:

Ana Maria Silva Eleoterio disse...

Joyce,adorei os teus trabalhos e fico lisongeada de ter vc como professora,espero que tenhamos excelentes resultados nos nossos estudos e na vida profissional apartir deles.
Ana Maria
Conc. da Barra